Drummond, a crítica e a escola: a invenção de um poeta nacional pelo livro didático de ensino médio.

Nome: MARIA AMÉLIA DALVI SALGUEIRO
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 03/09/2010
Orientador:

Nomeordem crescente Papel
CLEONARA MARIA SCHWARTZ Orientador

Banca:

Nomeordem crescente Papel
MOEMA LÚCIA MARTINS REBOUÇAS Examinador Interno
LETÍCIA MALARD Examinador Externo
FABÍOLA SIMÃO PADILHA TREFZGER Suplente Externo
CLEONARA MARIA SCHWARTZ Orientador
CLÁUDIA MARIA MENDES GONTIJO Examinador Interno

Páginas

Resumo: Este trabalho se ocupa da invenção de Carlos Drummond de Andrade como o primeiro grande poeta público do Brasil, a partir da veiculação reiterada de estereótipos poéticos e literários, quer pela crítica especializada e pela historiografia que engendra, quer, principalmente, pelo livro didático de ensino médio. Caracteriza-se como uma pesquisa de cunho bibliográfico-documental, cuja principal fonte é escrita e impressa. Sua orientação teórica concerne à História Cultural de matriz francesa, dialogando especialmente com alguns conceitos próprios ao pensamento de Roger Chartier (objeto cultural, representações culturais, práticas culturais, comunidades de interpretação e apropriação). Toma como corpus de trabalho um dos livros didáticos selecionados e bem avaliados pelo Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio (PNLEM), na edição de 2008, para o ano letivo de 2009, a saber, Português: Linguagens, de William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães. Conclui que é no mínimo curioso que se aceite como um dos melhores livros didáticos brasileiros (ou seja, um dos mais bem avaliados pelo PNLEM) para a formação do leitor literário de nível médio obra na qual um autor paradigmático de nossa experiência coletiva, no caso, Carlos Drummond de Andrade, seja apresentado de modo fragmentado e sensivelmente interessado, desarticulado de toda a sua importância como um pensador politizado de cultura, pois a imagem que lhe foi decalcada não corresponde às intenções de uma poesia corrosiva, incessantemente metalingüística, autofágica e autocrítica, que problematizou de modo evidentemente provocativo alguns dos pilares da vida brasileira: a religiosidade (em opção explicitamente atéia), a família, a infância, a idéia de nacionalidade, o corpo e o gozo, o bom-gosto burguês médio, o beletrismo e o bacharelismo. Além disso, entende que a representação da sociedade (e, conseqüentemente, da literatura e dos autores e obras nacionais) construída pelos livros e manuais didáticos corresponde, na realidade, a uma reconstrução, que tende mais a apresentar a sociedade (e a literatura, seus autores e obras, seus leitores) do modo como que se gostaria que ela fosse do que do modo como ela é; defende, pois, que investigar o Drummond reconstruído (ou seja, construído a partir da construção de sua figura autoral) pelos livros didáticos permite supor que literatura, que autores, que obras e que leitores a sociedade e, assim, a escola gostariam de ter, a despeito daqueles que efetivamente têm. No entanto, esta pesquisa não quer pressupor a demonização do livro didático, pois entende que o manual escolar pode ser um espaço de rasura: não se pode prever ou controlar a apropriação que dele se faz; nesse sentido, ainda que com as lacunas todas já fartamente apontadas pela produção acadêmica na área, o livro didático de língua portuguesa e literatura para o ensino médio pode ser apropriado ativamente, pode fomentar a errância, legitimando a autoria e estimulando a autonomia do leitor.

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