AS COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS E O PROJETO DE VIDA DO NOVO ENSINO MÉDIO: UMA MORALIZAÇÃO RENOVADA PARA A CLASSE TRABALHADORA
Nome: GUILHERME LUIZ FORMIGHERI FUA DE LIMA
Data de publicação: 20/07/2023
Banca:
Nome | Papel |
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CAROLINA DE ROIG CATINI | Examinador Externo |
MARIA AMELIA DALVI SALGUEIRO | Examinador Interno |
PRISCILA MONTEIRO CHAVES | Presidente |
Resumo: Este estudo teve como objetivo compreender o uso das competências socioemocionais (CSE),
em seus aspectos políticos e formativos, no componente curricular Projeto de Vida (PV) no
interior da contrarreforma do ensino médio a partir da atuação do Instituto iungo (Belo
Horizonte-MG) em Santa Catarina-SC. Foram evidenciadas as concepções teóricas e políticas
dos aparelhos privados de hegemonia (APH) como organizadores e implementadores das
novas políticas educacionais nas redes públicas de educação, em estreita coesão com as
prerrogativas de organismos multinacionais para a América Latina e Caribe. A partir do
materialismo histórico, na interlocução entre a crítica da economia política e o campo da crítica
da linguagem e da ideologia, foi realizada pesquisa de análise documental de planos de aula
do referido instituto, das concepções teórico-metodológicas de seus intelectuais orgânicos,
bem como dos documentos que norteiam a atuação dos organismos multilaterais, em especial
do Banco Mundial, para interiorização de competências, habilidades e valores nos alunos do
ensino médio. Evidenciamos uma renovada moralização burguesa, centrada no indivíduo e de
teor psicologizante, que opera conformações na ordem da identidade pessoal e profissional a
fim de ajustá-la aos imperativos da reprodução social do capital, impedindo, em alguma
medida, a organização política classista e combativa. O problema da motivação surge como
reação à frustração social oriunda da reestruturação produtiva. Opera-se uma reconfiguração
da “ação política” dentro do paradigma do voluntariado e do empreendedorismo social, e a
conquista de direitos passa a se configurar como concessões baseadas em contrapartidas para
inserção produtiva cada vez menos crítica e principalmente para a contenção da luta de classes.
Ocorre uma substituição do currículo baseado em referenciais da materialidade e da história
por um currículo comportamental e de valores, que relegam a juventude periférica brasileira
ao ensimesmamento e à imediata naturalização da própria condição social e econômica, sendo
responsabilizado, individualmente, pela melhoria de vida. Concluímos que o componente
curricular PV e as CSE operam um processo repolitizado de moralização, ajustando as
intenções, sonhos e projeções futuras dos jovens da classe trabalhadora aos ditames das
relações de trabalho flexíveis e precarizadas.