AS CRIANÇAS NO MOVIMENTO SEM-TERRA E A POLÍTICA COMO RITO DE INICIAÇÃO

Nome: FRANCEILA AUER

Data de publicação: 04/07/2025

Banca:

Nomeordem decrescente Papel
EDNA CASTRO DE OLIVEIRA Examinador Interno
MONIQUE APARECIDA VOLTARELLI Examinador Externo
NATÁLIA FERNANDES Examinador Externo
VANESSA SIEVERS DE ALMEIDA Examinador Externo
VANIA CARVALHO DE ARAUJO Presidente

Resumo: Partindo de um percurso etnográfico no Assentamento Histórias Vividas, localizado no
município de São Mateus/ES, utilizando observações, entrevistas, rodas de conversa,
fotografias, produções de desenhos e registros em diário de campo, a pesquisa tem como
objetivo analisar se a participação das crianças no MST apresenta um enfrentamento político
experienciado por elas em companhia dos adultos. No interstício entre o pensamento de
Hannah Arendt e as reflexões do campo da Sociologia da Infância, que possuem percursos
epistemológicos distintos, a pesquisa problematiza se a experiência do MST, na sua expressão
presente e/ou passada, pode revelar uma participação política das crianças. Apresenta, como
inspiração, um episódio comentado pela filósofa Hannah Arendt e pelo autor afro-americano
Ralph Ellison, ocorrido na década de 50 nos Estados Unidos da América, após a segregação
racial nas escolas ser considerada inconstitucional, fazendo com que crianças negras
ingressassem em uma instituição em Little Rock até então frequentada por alunos brancos,
gerando um alarde na sociedade. Se, para Hannah Arendt, tal situação representou a
exposição de crianças a um problema político que deveria ser resolvido por adultos, Ralph
Ellison pontuou que as crianças negras passariam por um “rito de iniciação” desde a mais
tenra idade, como um teste básico de sobrevivência para a vida, crítica essa que a levou a
repensar o seu posicionamento. A pesquisa questiona se as crianças, em movimentos sociais,
não estão de forma semelhante expostas com outras categorias geracionais em lutas. Campos
de estudos mais contemporâneos, como a Sociologia da Infância, advogam pela participação
das crianças na vida pública, embora não definam explicitamente um conceito de política. Os
resultados indicam que, em seus próprios modos de interpretar o mundo, as crianças
compartilham com os adultos uma espécie de “ação”, extraindo da experiência intergeracional
a política. Ao serem iniciadas na política, são formadas e participam da política com as
demais categorias geracionais, dentro de suas próprias racionalidades e formas de
compreender o mundo. O estudo conclui que há um enfrentamento político de adultos com as
crianças, sem responsabilizá-las por problemas que antecedem o seu nascimento, sem
lançá-las ao mundo sozinhas e desprotegidas, mas na perspectiva de reconhecê-las como
integrantes da luta, de considerá-las no presente e no futuro, de não apartá-las de um mundo
no qual se espera que elas possam agir e estabelecer novos começos.

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