OS TUBARÕES DO CAPITAL NOS MARES DA EDUCAÇÃO CAPIXABA: VINTE ANOS DA ATUAÇÃO MOVIMENTO EMPRESARIAL ESPÍRITO SANTO EM AÇÃO (2003-2023)
Nome: ISRAEL DAVID DE OLIVEIRA FROIS
Data de publicação: 26/06/2025
Resumo: Indaga-se o lugar que o Movimento Empresarial Espírito Santo em Ação (Meesa) tem ocupado no campo das políticas educacionais no Espírito Santo e em que medida o Meesa expressa a lógica de organização dos movimentos empresariais nacionais e internacionais no campo da educação. Sob o fundamento do materialismo histórico-dialético, especialmente do referencial teórico de Antonio Gramsci, objetiva-se analisar o projeto educacional do Meesa, assim como a sua atuação nas políticas educacionais no Espírito Santo, para apreender o significado de suas formulações para a educação pública, o seu modus operandi, os seus vínculos com outras organizações e a atuação de seus intelectuais orgânicos na construção e na conformação da hegemonia burguesa no campo educacional capixaba. As análises empreendidas revelam a forte presença do Meesa nos rumos político-econômicos do estado por intermédio dos Planos de Desenvolvimento do ES (ES 2025, ES 2030 e ES 500 Anos). A organização conseguiu congregar várias facetas das formas de organização, articulando a representação político-econômica empresarial, encoberta com o verniz da responsabilidade social e da defesa do bem comum, com o objetivo explícito de intervir em diversas frentes das políticas públicas. Desse modo, ampliou a hegemonia burguesa na condição de intelectual orgânico coletivo, visto que elabora e difunde ideias, e trabalha para construir unidade e estratégia de classe. Nos 20 anos
de atuação, o Meesa conseguiu galgar níveis de intervenção na educação passando por três principais momentos: o primeiro (2003-2013), caracterizado pelas primeiras formulações de caráter mais corporativo, no qual buscou associar o saque aos fundos públicos ao treinamento de força de trabalho instituído no Plano ES 2025 e atualizado no ES 2030; o segundo (2014-2018), definido pela consolidação das suas formulações, por meio da articulação e mediação com o aparelho estatal a fim de conduzir o modelo pedagógico e de gestão empresarial do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE), a ser implantado na rede pública estadual (Programa Escola Viva) e na rede pública de Vitória; o terceiro (2019-2023), marcado pela difusão, reprodução e execução das formulações direcionadas às redes municipais capixabas. Nesse percurso, percebe-se a crescente capilaridade do movimento, possibilitada pelas associações da Rede Empresarial, bem como pela estruturação de sua equipe interna, que passou a contar com consultores precarizados, a fim de conduzirem o plano de ampliação das Escolas em Tempo Integral para os municípios capixabas. Nesse momento, a sua perspectiva de educação integral configura-se como uma pseudo-integralidade, isto é, uma unilateralidade formativa, direcionada aos interesses da classe dominante e, por isso, esterilizada de qualquer
intenção de enriquecimento cultural humano. O maior desafio no campo educacional capixaba é o de compreender as estratégias, as táticas e os nexos classistas das formulações do empresariado, identificar, disputar e ocupar as trincheiras, preparar e empunhar as armas teórico-práticas para efetivar o enfrentamento, a luta política contra a hegemonia burguesa que
atravessa toda a tecitura societária.