Summary: Os estudos pretendidos têm como principal tópico de interesse a Pedagogia da Alternância e seus aspectos didático-pedagógicos circunscritos aos processos formativos de jovens camponeses, com vistas a aperfeiçoar a práxis e inovar frente aos desafios contemporâneos da educação técnica e profissional do campo. Nasce a partir das discussões com educadores, professores e monitores sobre fragilidades didáticas que denunciam a ausência do uso de novas tecnologias nos processos de ensino e, por conseguinte, na precarização das mesmas em experimentos técnico-científicos. Daí a necessidade de uma investigação que possa evidenciar os principais fazeres didático-pedagógicos empreendidos pelos docentes nas referidas escolas, sinalizando limites e potências, possibilitando reunir, a partir da escuta dos docentes e estudantes, proposições que possam qualificar o trabalho e proporcionar inovações (Teixeira; Oliveira, 2023).
A Pedagogia da Alternância, como profusamente conhecida, nasceu na França em 1935, na então denominada experiência das Maisons Familiale Rurale (Granereau, 2020; Gimonet, 2000, 2007; Garcia-marrirodriga e Puig-Calvó, 2010) e no Brasil, Espanha e Itália como Escola Família Agrícola. No Brasil, teve seu início em 1969, na cidade de Anchieta, por iniciativa do padre Humberto Pietrogrande, agricultores organizados e lideranças políticas que fundaram o Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (Mepes) e as primeiras Escolas Famílias Agrícolas de Olivânia, Alfredo Chaves e Rio Novo do Sul. Como propulsores da criação das primeiras Escolas Famílias Agrícolas no Brasil, estavam as condições precárias de vida no campo, o êxodo rural, a ausência de escolas e de perspectivas nos jovens com vistas à continuidade do trabalho familiar no campo (Gerke de Jesus, 2011; Caliari, 2002; 2013).
De 1969, data da criação da primeira Escola Família Agrícola no Brasil, até os dias atuais, significativas apropriações da Alternância se deram nos mais diferentes estados brasileiros, bem como no mundo, da escola básica à universidade. O movimento expansionista cresceu de maneira exponencial e conduziu a criação de organização das instituições em nível local, regional, nacional e internacional. Atualmente, no Brasil as experiências da Pedagogia da Alternância são reunidas em associações locais do Movimento CEFFAS (Centros Familiares de Formação por Alternância), com uma práxis viva e dinâmica que traz em seu bojo objetivos datados de sua origem, como outros que se produziram e se produzem a partir das demandas atuais. Em nível regional, os CEFFAS são organizados em regionais, o Espírito Santo possui duas regionais, o MEPES (Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo) e a RACEFFAES (Regional das Associações dos Centros Familiares de Formação por Alternância no Espírito Santo). Já em nível nacional, as regionais compõem a União Nacional das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil (UNEFAB) e as Casas Familiares estão reunidas na ARCAFAR (Associação Regional das Casas Familiares Rurais) e, por fim em nível internacional as diferentes experiências com a Alternância estão organizadas na Associação Internacional dos Movimentos Familiares de Formação Rural (AIMFR). A organização das diversas experiências da Alternância produzidas em Escolas e/ou Casas Familiares em associações se dá em função do pilar Associação como um dos meios organizativos da Formação Integral e do Desenvolvimento Local Sustentável.
Segundo dados da UNEFAB (2023), atualmente existem 229 escolas/casas familiares de Alternância no Brasil, em 25 estados, com 17.595 mil estudantes anualmente e 6.785 monitores-professores-educadores. A presidência da UNEFAB é ocupada por um (a) agricultor (a) e sua sede é itinerante. Atualmente a presidente é a sra. Simone Souza de Almeida, camponesa do Maranhão e sua sede está no Centro de Formação e Reflexão do Mepes, localizado em Piúma/ES.
Destarte, compreende-se que a Pedagogia da Alternância refere-se ao modo integrativo de alternância entre os tempos e espaços ocorridos no âmbito da escola e/ou da universidade e o reconhecimento dos tempos e espaços ocorridos na comunidade e /ou meio socioprofissional (Gimonet, 2007; Luís, Gerke e Guimarães, 2021), ambos como lugares do processo educativo para estudo, investigação, aprendizagem e ação. Essa perspectiva curricular, tanto pela sua origem como pela sua finalidade, vem ao encontro dos debates da Educação do Campo e por esse motivo é adotada como princípio organizador de experiências na educação básica (em escolas do campo) e na educação superior (cursos de formação docente) (Rocha et al, 2010; Sá e Molina, 2010; Silva, 2010).
Portanto, a Pedagogia da Alternância, situa-se nos espaços e tempos da resistência e da perseverança, nasce do desassossego dos camponeses na busca por um processo formativo que concilie as aprendizagens dos conhecimentos historicamente acumulados ao trabalho, às suas necessidades cotidianas, com sentimento de pertença às suas raízes históricas, culturais e econômicas, produzidas na lida com a terra, sua cultura, seu território.
O trabalho realizado pelas Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) e/ou Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFAs) no Espírito Santo, completa em 2024 uma trajetória de 55 anos, o que lhe confere legitimidade não apenas pelo tempo de sua existência, mas, sobretudo, pelos resultados perenes de formação técnica e profissional de jovens camponeses que hoje atuam nas mais diferentes possibilidades de geração de trabalho e renda no campo, em órgãos públicos e em outras profissões galgadas a partir da formação nessas escolas. Nesse sentido ainda, a Pedagogia da Alternância pelo seu potencial formativo passa a ser adotada, a partir de 2008, nos processos formativos em nível superior, nas áreas da Educação, Direito, Agronomia e Administração.
Cabe registrar ainda, que as Escolas Famílias Agrícolas no Espírito Santo, são mantidas a partir das parcerias entre poder público estadual e municipal e, entidades de natureza filantrópica, a exemplo o MEPES. Nesse sentido, as análises produzidas e os resultados alcançados nessa pesquisa, se constituirão em novos saberes e fazeres, especialmente, no que se refere aos processos de inovação tecnológica para a formação profissional do jovem e o seu trabalho, como também para a formação dos professores (monitores) que atuam nas escolas da Pedagogia da Alternância e na Licenciatura em Educação do Campo, uma vez que esta é lócus de acolhimento de um número significativo de egressos das EFAs.
Considerando o exposto, o enfoque da pesquisa primará pela busca do aprofundamento dos aspectos didático-pedagógicos da Pedagogia da Alternância no contexto das Escolas Famílias Agrícolas do Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (Mepes), com atenção ao uso de seus instrumentos e/ou suas mediações didático-pedagógicas (Gerke de Jesus, 2011; 2018; Begnami, 2019). Os resultados serão sistematizados, analisados e divulgados em formato de artigos científicos, no Brasil e em países que compõem o coletivo internacional de investigação sobre a formação por alternância, como subsídio de formulação/reformulação de seus fazeres no âmbito dos aspectos didático-pedagógicos. Para além, os resultados contribuirão na fundamentação da Alternância junto ao poder público na luta por políticas públicas que reconheçam sua especificidade, contribuindo no financiamento dos projetos desenvolvidos pelas instituições, sua mantença e expansão. As aprendizagens construídas a partir da pesquisa em tela serão aplicadas no trabalho de ensino, na Licenciatura em Educação do Campo; nos projetos de extensão desenvolvidos junto aos educadores do Mepes, da Raceffaes, das escolas estaduais em área de assentamento e das EFAs municipais e estadual; subsidiando ainda o aprofundamento dos estudos desenvolvidos no Programa de Pós-graduação, mestrado Profissional em Educação; Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação do Campo, da Cidade e da pedagogia Social e no Grupo de Estudos e Pesquisas CNPq/UFES Pedagogia da Alternância e Formação Docente: Memórias, Experiências e Narrativas.
Starting date: 01/01/2025
Deadline (months): 24
Participants:
Role![]() |
Name |
---|---|
Coordinator * | JANINHA GERKE |
Researcher * | MIRIÃ LÚCIA LUIZ |
Researcher * | MARLUCE LEILA SIMÕES LOPES |
Vice coordinator * | ALESSANDRO DA SILVA GUIMARÃES |